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SAÚDE NAS ALTURAS - Os riscos de quem está em pleno voo

20/04/2018

“Há algum médico a bordo?”, pergunta de forma tensa a comissária. Enquanto os passageiros se entreolham, os médicos sempre se prontificam a ajudar. Independentemente de a maioria ter tido contato com manobras de reanimação cardiopulmonar no período de residência, no início da carreira, numa situação de crise em pleno voo é preciso abstrair qualquer coisa que não seja salvar aquela vida. É uma luta contra o tempo, enquanto a tripulação entra em contato com o aeroporto mais próximo, solicitando suporte médico terrestre. Artigo divulgado no New England Journal of Medicine revela que ocorre uma emergência médica a cada 604 voos nos Estados Unidos.

De acordo com a médica Elisabeth Poorman, do Cambridge Health Alliance, mais do que saber que ninguém está livre de enfrentar intercorrências nas alturas, há problemas que são muito comuns quando as pessoas estão a mais de dois mil metros de altura, como queda de pressão arterial e desidratação. Quem tem problemas respiratórios, por exemplo, também pode apresentar dificuldade para respirar. Determinadas doenças – previamente diagnosticadas ou não – podem ter seus sintomas exacerbados por causa do voo. “A tripulação geralmente é treinada para emergências e pode contar com um call center que passa instruções em tempo real durante um atendimento. Mesmo assim, se não houver um médico a bordo, poderá contar com um paramédico, uma enfermeira, ou qualquer profissional da saúde que possa ser útil numa situação atípica”.

Além dos problemas de saúde que podem surgir durante um voo, há desdobramentos que ocorrem depois de alguém passar muitas horas voando de um país a outro, acomodado numa poltrona por várias horas na mesma posição, a dez ou doze quilômetros de altura. De acordo com Ronald Flumignan, cirurgião vascular da clínica Vena, quanto mais tempo a pessoa passar sentada, maior será o risco de sofrer uma trombose venosa profunda (TVP). Trata-se da formação de trombos, uma coagulação do sangue no interior dos vasos sanguíneos, que podem oferecer alto risco de mortalidade se houver como desdobramento a embolia pulmonar.

O médico explica que o tipo mais comum de embolia pulmonar é aquele que se forma a partir do desprendimento de um coágulo de sangue – geralmente, um que tenha se formado na perna ou região pélvica (TVP). “Pessoas que passaram muito tempo em repouso, acamadas, ou que fizeram voos longos, têm um risco aumentado para a trombose e suas complicações. Voos com mais de quatro horas de duração já são preocupantes, mas os que representam risco aumentado para os pacientes são aqueles com mais de 12 horas de duração. Por isso é fundamental não perder tempo e seguir com diagnóstico e tratamento. Vale lembrar que, quanto mais idade o passageiro tiver, há mais chances de sofrer TVP e suas complicações”.

Na opinião de Flumignan, inclusive, as companhias aéreas que fazem voos de longa duração deveriam incentivar mais os pacientes a esticar e movimentar as pernas durante a viagem. “A trombose venosa profunda, como o próprio nome diz, é um trombo (coágulo) formado em veias profundas da perna. Essa condição geralmente provoca dor, inflamação e inchaço. Se o trombo se desprende da parede do vaso, há risco de circular pela corrente sanguínea e bloquear a artéria que alimenta os pulmões, causando a embolia. Esse é o principal motivo de morte relacionada à trombose venosa. Como há casos de TVP assintomática, ou seja, sem provocar alertas como dor ou inchaço, é fundamental que as pessoas conheçam os fatores de risco e avaliem se vale a pena fazer viagens longas e com voos diretos. Os que optam por fazer voos longos deveriam tomar precauções, como mudar de posição durante o voo, levantar e andar periodicamente, tomar muita água e ainda, os que podem, deveriam usar meias elásticas durante toda a viagem”, recomenda o médico. 

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