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SAÚDE - Médicos humanistas discutem impactos do novo coronavírus

24/06/2020

“Quando a gente lida com algo novo, é preciso ter a modéstia e a humildade de não querer procurar uma resposta imediatamente – como muita gente está fazendo e evidentemente não funciona”, afirma o Prof. Dr. Pablo González Blasco, um dos nomes mais importantes em Medicina Humanista, Medicina Centrada no Paciente. “Estamos aprendendo no dia a dia, assimilando cada notícia que chega de várias partes do mundo”. O professor cita Gregorio Marañón: “O vazio que surge entre a imperfeição da verdade que possuímos e a verdade que almejamos conseguir deve ser preenchido com entusiasmo, boa fé e acima de tudo com doses abundantes de modéstia”.

Na sequência, o Prof. Dr. Marco Aurelio Janaudis chamou a atenção para a importância das orientações até mesmo quando o paciente já superou a Covid-19. “Esta semana, diante de uma notícia positiva, a paciente verbalizou que – uma vez curada – queria abraçar e beijar as pessoas, sem necessidade de usar máscara. Foi aí que me dei conta de como é importante que os médicos, ainda que estejam contentes em dar aquele resultado, se atentem para a importância da correta comunicação para salvaguardar a vida dos demais. Até para mim aquele episódio foi um aprendizado”.

Na opinião do Prof. Dr. Marcelo Levites, o grande ponto é que o novo coronavírus traz a questão da incerteza. “Assim como a gente estuda esse tipo de desfecho em outras doenças, ainda não se sabe por que o novo coronavírus pode atingir gravemente uma pessoa e não atingir outra. Diante desse tipo de situação incerta é preciso estar presente com o doente, fazer nosso melhor. Só contemplar número de mortos não ajuda em nada. Essas emoções negativas acumuladas acabam resultando em coisas ruins, nunca o contrário”. Mais adiante, o médico ressalta a importância de os médicos estarem presentes tanto com seu conhecimento, quanto com suas crenças religiosas. “A gente aprendeu tanto ao longo da vida. Agora é hora de colocar todo esse aprendizado em ação. A hora é agora”.  

A Prof. Dra. Maria Auxiliadora Benedetto percebe que o que tem imobilizado as pessoas é mais esse medo pelo desconhecido. “Até mesmo no dia a dia das pessoas o pânico às vezes tem tomado conta de suas atitudes, levando a exageros como se o vírus tivesse mais poderes do que realmente tem. Em alguns condomínios, por exemplo, as pessoas discutem se um funcionário deve recolher o lixo de cada apartamento ou se isso põe a saúde dele e de outras pessoas em risco”. A professora chama atenção para ensinamentos do filósofo grego Epiteto, para quem felicidade e realização pessoal são consequências naturais de atitudes corretas. “Duas afirmações desse filósofo são relevantes neste momento. A primeira é a importância do aprendizado por meio de exemplos. Epiteto não era teórico. Seus alunos aprendiam pela observação e experimentação. A segunda questão é que é fundamental aceitar que tem coisas que se pode controlar e outras que não têm controle. Sempre foi assim e é preciso saber diferenciar as coisas para não exagerar no sofrimento”.

Por fim, a Prof. Dra. Graziela Moreto levantou a questão de que em momentos de crise é quando mais os médicos devem se questionar sobre sua atuação e procurar aprender, sempre. “Diante do novo coronavírus percebemos a importância de inovar na comunicação. Pacientes em cuidados paliativos, por exemplo, estão distantes de suas famílias, não podem receber visitas mesmo que não haja diagnóstico de Covid-19. Então nosso papel cresce, promovemos uma comunicação colaborativa, fazendo a ponte com os familiares de cada paciente. Ou seja, enquanto cientistas buscam respostas para a doença, a gente busca outros aprendizados, como melhorar a comunicação com os pacientes para que se sintam melhores”.

Antes de terminar, o Prof. Dr. Pablo G. Blasco cita novamente Gregorio Marañón. “O papel do médico é, na verdade, saber orientar a vida do enfermo, desordenada pela doença, aliviá-lo, utilizando a ciência possível, e suprindo com a melhor dedicação a ineficácia dessa mesma técnica quando não há mais recursos ou estes não estão disponíveis. Fazer o que é possível sem lamentar­-se de não poder fazer o ideal, ou, pior ainda, abandonar o paciente”. Depois ainda recorre ao filósofo Julián Marías, que quando encontrava pessoas desanimadas em suas conferências, dizia: “As pessoas não fazem as perguntas certas. Não devem questionar o que vai acontecer, mas sim o que vamos fazer. Essa é a reflexão que vale a pena”.

Para terminar, cenas do filme Instinto (1999), quando o personagem de Anthony Hopkins ameaça e mostra ao terapeuta vivido por Cuba Gooding Jr que ele não perdeu controle, porque não tinha. Nem perdeu a liberdade, porque nunca foi realmente livre. O que estava realmente ameaçado eram suas ilusões.  

Confira o vídeo na íntegra em https://vimeo.com/sobramfa

 

 

 

 

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