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SAÚDE - É possível evitar que crianças tenham baixa visão ou fiquem cegas?

01/11/2018

AUTOR: Prof. Dr. Renato Neves

Em 1997, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que 45% das crianças ficavam cegas por causas evitáveis. Apesar de essas causas variarem consideravelmente de um país para outro, basicamente o que compromete a visão das crianças são: sarampo, deficiência de vitamina A, catarata, retinopatia da prematuridade, erros de refração e baixa visão. Dois anos depois, foi lançado um plano global chamado VISION 2020 – para justamente erradicar no mundo todo esses casos de cegueira que poderiam ser evitados através de prevenção e atendimento imediato. 

Vários planos subsequentes vieram, de forma mais realista, para ajustar esse propósito às condições que de fato estão disponíveis às populações. Um dos planos em vigor é o Global Action Plan(GAP) que prevê uma redução de 25% entre 2014 e 2019 desses problemas visuais que comprometem parcial ou totalmente a visão. Estimativas mais recentes indicam que há, no mundo todo, 285 milhões de pessoas com visão comprometida, sendo 39 milhões de cegos e 246 milhões de pessoas com baixa visão. Entre as crianças de zero a 14 anos, há 1,4 milhão de cegos e 17,5 milhões de crianças com baixa visão. 

deficiência de vitamina A (xeroftalmia) é importante causa de cegueira infantil evitável. Trata-se de uma vitamina indispensável para garantir a acuidade visual, bem como o crescimento/desenvolvimento adequado da criança. Em casos graves, a falta dela pode provocar ulceração e necrose da córnea. Na população infantil, a principal causa da falta de vitamina A está relacionada a carências alimentares. Por isso, é muito importante incluir alimentos ricos em vitamina A na dieta – através de alimentos alaranjados (cenoura, abóbora, mamão, manga etc.) ou verde-escuro (brócolis, espinafre, escarola etc.). Leite, laticínios e gema de ovo também são fontes importantes dessa vitamina. Vale dizer que o primeiro sintoma da deficiência de vitamina A é a cegueira noturna. Por isso, é fundamental prestar atenção às crianças. 

sarampoé uma doença que compromete demais a visão, quando não tratado a tempo. Além disso, também é importante contar com a imunização contra o sarampo em larga escala para reduzir a morbidade e mortalidade infantil. Epidemias de sarampo são relativamente raras hoje em dia, embora o Ministério da Saúde tenha registrado novos casos recentemente. De toda forma, a campanha nacional de vacinação contempla essa imunização.

catarataé outra causa de cegueira evitável em crianças. Por isso, nos últimos anos a indústria oftalmológica desenvolveu técnicas, equipamentos e lentes intraoculares (LIOs) menores e muito potentes, apropriadas para crianças.  Há crianças que recorrem às LIOs com apenas um ano de vida – sendo fundamental um acompanhamento de longo prazo para garantir que a visão da criança está recebendo a melhor correção possível. 

retinopatia da prematuridadeé uma das principais causas de cegueira em crianças no mundo todo, havendo cerca de 50 mil crianças cegas pela doença.  A deficiência visual causada pela retinopatia ocorre por causa do descolamento de retina tracional. Um exame de rotina realizado em bebês prematuros permite a identificação de formas graves da doença. Os tratamentos geralmente envolvem fotocoagulação ou crioterapia para reduzir a cegueira.

A baixa acuidade visual devido a erro de refraçãoé mais comum em crianças de países asiáticos e que têm alto grau de miopia – distúrbio que aumenta com o tempo. A miopia é causada pela influência de genes, bem como fatores ambientais. Diante da nova realidade, que obriga as crianças a passarem seu tempo livre em ambientes fechados e focadas em aparelhos eletrônicos (TV, videogame, computador, celular etc.), é preciso estabelecer mais atividades ao ar livre para proteger as crianças de miopia. Além disso, consultar um médico oftalmologista e usar óculos para correção são atitudes que contribuem para a qualidade de vida da criança, bem como para seu desenvolvimento social e educacional. 

Estudos recentes de erros de refração sugerem que a prevalência debaixa visão funcionalé aproximadamente o dobro da prevalência de cegueira. Há quase três milhões de crianças em todo o mundo que poderiam se beneficiar de serviços oftalmológicos voltados para crianças. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) uma pessoa apresenta baixa visão quando existe uma acuidade visual inferior a 3/10. A causa de baixa visão pode ser congênita ou adquirida. Assim, qualquer patologia ou lesão que afete desde a parte mais anterior do globo ocular (córnea), passando pelas suas estruturas intraoculares, até a retina, nervo óptico e sistema nervoso central pode culminar numa baixa visão. A incapacidade de adquirir novas informações visuais leva à falta de estímulos, fazendo com que o sistema visual permaneça subdesenvolvido. 

O exame oftalmológico é um passo importante para perceber o potencial visual das crianças e a forma como utilizam a visão para ultrapassar suas limitações. Os bebês com baixa visão necessitam de estímulos extras para o desenvolvimento da consciência visual, a ponto de despertar o desejo de ver tudo o que os rodeia. O controle da cegueira infantil é prioridade tanto no VISION 2020 quanto no Global Action Plan(GAP). O objetivo é que o número de crianças cegas seja reduzido de 1,4 milhão para cerca de 800 mil até 2019 – que já está próximo. Um dos primeiros passos já foi dado, que é a ‘informação’ – arma importante de todo trabalho de prevenção de doenças. 

 

Prof. Dr. Renato Augusto Neves é cirurgião oftalmologista e diretor-presidente do Eye Care Hospital de Olhoswww.eyecare.com.br

 

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