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Indústria bélica e soberania nacional

13/09/2007

*Thomas Korontai

O povo brasileiro, apesar da violência urbana concentrada em algumas metrópoles, sempre se sentiu orgulhoso por ser considerado pacífico e diplomático, passando ao largo de grandes conflitos armados. Nosso último confronto se deu há mais de 60 anos, durante a Segunda Guerra Mundial. Contudo, os conflitos continuam em todo o mundo e têm ganhado novos contornos.

Desde o fim da bipolarização “Estados Unidos-União Soviética”, as ameaças estão mais dispersas, criativas e de difícil identificação. A própria instabilidade em países sob regime aparentemente democrático pode fazer surgirem inimigos em curto espaço de tempo. Por essa razão, o anúncio de governo federal em criar o PAC da Defesa deve ser saudado. Sem perdermos nossa natural vocação para a paz, é preciso enxergar a indústria bélica como instrumento estratégico de soberania.

Durante o período entre 1970-1980, ensaiamos o fortalecimento desse setor. Empresas como Embraer, Avibrás e, principalmente, Engesa lançaram produtos de qualidade internacional. A Avibrás conquistou parte do mercado com seu lançador de foguetes Astro-II. A Embraer, bem sucedida até hoje, com os aviões Tucano e modelos próprios para reconhecimento militar.

A Engesa, por sua vez, faliu nos anos 90 quando dominava a tecnologia de blindados sobre rodas e depois de vender seus produtos para 18 países além do Brasil. Entre caminhões, jipes e blindados forma mais de 6.000 unidades. Apenas do blindado sobre rodas EE-9 Cascavel foram vendidas 1738 unidades. A falência da empresa não apenas ceifou milhares de empregos, como jogou por terra grande parte do desenvolvimento tecnológico na área de defesa.

A indústria bélica brasileira, porém, é maior do que se imagina. São mais de 300 empresas que fornecem de uniformes a aviões às Forças Armadas Brasileiras e para exportação. E essa indústria deve ser amparada pelas compras militares nacionais para que possa se desenvolver. Dos R$ 9 bilhões prometidos pelo governo federal, parte considerável deve ser destinada à indústria bélica sob risco de continuarmos dependentes de importações.

Destinar recursos para pesquisa de defesa nas universidades brasileiras e proporcionar a transferência de tecnologia à indústria é um primeiro caminho. Em segundo lugar, é importante reequipar as Forças Armadas, que vivem há anos um processo de sucateamento – sem mencionar problemas de baixo soldo das tropas. Com a garantia de compra por parte dos comandos militares, a indústria bélica brasileira voltará a investir, gerando empregos e tecnologia necessária para nossa independência externa na área.

Todo esforço nesse sentido deve considerar a garantia do espaço aéreo brasileiro, de nossa costa e mar territorial, mas, principalmente, nossas fronteiras secas que vão do Sul à região amazônica. Os casos de infiltração e atividades ilegais nessas regiões são conhecidos dos meios militares e políticos. Urge garantir o monitoramento dessas regiões fronteiriças para garantir nossa soberania, contando inclusive com a presença física das tropas.

Fortalecer as Forças Armadas, as pesquisas na área de defesa, o desenvolvimento tecnológico e operacional da indústria bélica é responsabilidade de toda a nação. Esperamos que a verba prometida não fique somente no discurso ou no papel. Sem dúvida alguma, a melhor maneira de evitar um conflito é estar preparado para ele. ♠


*Thomas Korontai é presidente do Partido Federalista (www.federalista.org.br)
e autor do livro “Brasil Confederação” (Editora Pinha, 1993)

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