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Artigo: Células-tronco: o que esperar realmente delas?

28/05/2007

Fabrício Torres*


Os avanços nos estudos desenvolvidos com a utilização das células-tronco têm levado a engenharia de tecidos a resultados promissores em diversas áreas médicas, principalmente em procedimentos reconstrutivos. A cirurgia plástica, por lidar com tecidos diversos – pele, cartilagem, ossos e nervos – em sub-áreas como cirurgia crânio-facial, tratamento de queimados, restauração de nervos periféricos, tratamento de feridas cutâneas, reconstrução pós-acidentes e após ressecção de tumores, por exemplo, vem se tornado uma das áreas que mais tem promovido estudos com a utilização das células-tronco.

Hoje, há pesquisas com células-tronco para restaurar a função de nervos lesionados, ou na substituição cutânea para pacientes com grandes áreas queimadas, bem como nas reconstruções de orelha, seqüelas de extirpação de alguns tipos câncer, ou mesmo no tratamento de feridas complexas. É comum, inclusive, haver casos em que se confunde a cirurgia com fins estéticos de um procedimento com fins reparadores. A reparação, muitas vezes, é a melhora da estética de uma área do corpo e vice-versa. Em cirurgia plástica, estética e reparação andam de mãos dadas.

Por definição, as células-tronco têm como característica serem originadas de outra célula-tronco, dando origem a células-filhas que, por sua vez, vão originar tecidos diversos e possuir capacidade ilimitada de autodivisão. As células-tronco podem provir de um embrião (células-tronco embrionárias) ou de algum tecido de um indivíduo adulto (células-tronco adultas).

As células-tronco embrionárias mostram uma série de controvérsias, permeando o enfoque religioso e o caráter ético, visto que existem alternativas à sua utilização. Também existem justificativas científicas fortes para não se utilizar as células-tronco embrionárias. A instabilidade cromossômica é uma delas, podendo acarretar mutações celulares imprevisíveis com uma certa freqüência. Também são mais suscetíveis a desenvolver determinado tipo de tumor (teratoma), além de obrigar o indivíduo receptor a se submeter à imunossupressão para o resto da vida, para que seu organismo não rejeite aquela célula que veio de outro “indivíduo” – o embrião. É um processo semelhante ao do transplante de órgão.

As células-tronco adultas, por sua vez, não mostram tendência à instabilidade cromossômica nem ao desenvolvimento de teratomas. Por serem do mesmo indivíduo, já que a mesma pessoa faz papel de receptora e doadora, não há necessidade de tomar drogas imunossupressoras. Além disso, a Igreja não se opõe ao uso dessas células, e discussões éticas e legais são praticamente nulas. Esse quadro favorável tem proporcionado um grande avanço nas pesquisas com as células-tronco adultas em todos os continentes.

A punção da medula óssea vinha sendo o método mais freqüentemente usado para se obter células-tronco adultas nos últimos anos. Porém, por ser um método trabalhoso e doloroso, com baixo rendimento celular, além de não conseguir aspirar grandes volumes, obrigou a comunidade científica a pesquisar outras fontes doadoras.

Mais recentemente, a gordura passou a ter grande importância para esse fim, dado que existe em abundância no organismo, sua extração é tecnicamente mais fácil (através de lipoaspiração), seu rendimento celular por grama de tecido é mais alto que a medula óssea e a agressão cirúrgica é menor quando comparada à punção de medula óssea. Esse cenário faz da retirada de célula-tronco da gordura uma grande aposta no direcionamento das pesquisas nessa área.
A cirurgia plástica tem tudo para se desenvolver como o grande campo na pesquisa e na aplicação de técnicas de bioengenharia tecidual e medicina regenerativa, contando com ampla área de atuação (reparação). Além disso, a obtenção de tecido adiposo via lipoaspiração ou lipectomia (incisão e ressecção) já faz parte da rotina do cirurgião plástico. O que ainda falta para a cirurgia plástica brasileira, que é uma das mais respeitadas do mundo pela qualidade dos resultados alcançados na cirurgia estética, é esse avanço na área reparadora. Talvez aí se encontre a chave para o sucesso: reparação e estética como objetivo único.●
*Dr.Fabrício Carvalho Torres é Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Doutorando pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - onde desenvolve linha de pesquisa com foco no estudo das células-tronco provenientes do tecido adiposo e possíveis aplicações em cirurgia plástica.

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